terça-feira, 5 de outubro de 2010

PICAPE AGILE



Lançada em 2003, a Chevrolet Montana abandonava as origens do hatch Corsa para angariar novos consumidores. Com um design agressivo e soluções criativas, como o apoio para o pé para facilitar o acesso à caçamba, a picape conseguiu um sucesso maior do que sua antecessora, que adotava o nome Corsa. Sete anos depois, a receita se inverte: um novo carro chega para continuar o bom desempenho da Montana, cujo nome se consolidou no mercado. A Chevrolet chama-a de Nova Montana, mas poderia ser picape Agile.

Com preço partindo de R$ 31.990 na versão LS, a Nova Montana aposta, segundo a GM, na mesma receita usada pelo Agile: uma lista de itens de série recheada por um preço abaixo da concorrência. Com capacidade de carga de 758 Kg, a nova Montana lidera o segmento nesta categoria. Porém a picape é mais cara que sua antecessora, tanto no pacote simples quanto o que incorpora direção hidráulica (R$ 34.435), ar-condicionado (R$ 37.653) e vidros elétricos, travas elétricas, airbag e ABS (R$ 39.833). Acima da LS ficará a Sport (R$ 44.040), versão com acessórios estéticos, incluindo o decano adesivo “Sport” na porta, cuja estreia se deu no Astra em 2000.

Predador
Baseada no hatch argentino, a picape fabricada em São Caetano do Sul (SP) mistura elementos da Montana antiga com o Agile. Na dianteira, o desenho incomum do compacto foi mantido em sua essência, com a enorme grade do radiador cortada pelo filete do para-choque. Este, por sinal, ganhou novas proeminências nas laterais, diferenciando-se do compacto e dando um ar de “Predador”, segundo alguns jornalistas presentes no lançamento, fazendo referência ao alienígena dos cinemas. A mudança deixou a dianteira mais agressiva, mas mudou o primeiro ponto de impacto do para-choque, saindo da placa e indo para as laterais.

Soa como um detalhe pequeno, mas algumas unidades à disposição para avaliação já contavam com a peça descascando. Em um veículo de trabalho, ter um para-choque pouco resistente a impactos leves pode ser um defeito estético mal visto por frotistas – ainda mais em um carro que não permite a opção de para-choques pretos. A lateral mantém a porta do Agile somada a uma pequena vigia assimétrica. Os para-lamas traseiros receberam um forte vinco trapezoidal, formato que se repete no apoio para os pés, maior nesta Montana do que na outra.

Ao contrário do que ocorre na dianteira, o para-choque traseiro tem durabilidade acima da média, mérito de sua estrutura de aço. Mais caro do que uma peça feita com plástico injetado, o para-choque suporta melhor o peso de uma pessoa apoiada sobre ele em uma situação de carga e descarga. Essa tarefa, aliás, será mais fácil de ser conduzida na nova Montana, graças à tampa da caçamba mais baixa. A mudança também refletiu em uma discreta melhoria na visibilidade traseira.

Ponto H
Dentro da cabine, a Montana não esconde sua alma de Agile. Painel, consoles e bancos são iguais aos usados no hatch, com exceção apenas às maçanetas internas, alavanca de câmbio e contorno dos difusores de ar, agora pintados de cinza escuro. A diferenciação foi acertada, mas as rebarbas entre os componentes e plásticos de aparência inferior ainda permanecem.

O dono de Agile que se sentar na Montana, porém, notará uma leve mudança no ponto de vista. Culpa de um misterioso “Ponto H”, nome técnico usado por engenheiros para citar o local próximo da junção das pernas com o quadril. Na prática, um carro com o ponto H elevado deixa o motorista mais alto em relação ao veículo, com as pernas mais flexionadas.

A solução, somada ao teto mais alto, garante um espaço extra na cabine sem sacrificar o comprimento do carro. Porém não há milagre para extrair uma área maior atrás dos bancos, local geralmente reservado para as bagagens importantes, que não podem ser expostas às intempéries na caçamba. Neste aspecto a Nova Montana, assim como a Velha, se posiciona em um limbo chamado “Max Cab”. Sem ser cabine simples nem estendida, a Montana oferece 164 litros de espaço atrás dos bancos. O suficiente para a bagagem de uma pessoa disposta a repetir algumas roupas em suas férias.

Em contrapartida na caçamba vão 1.100 litros, segundo a GM. Esse valor é somente para a Nova Montana sem a capota marítima. Com ela, o volume é reduzido em 20 litros, além da perda de parte do conforto acústico na estrada. Explica-se: a proteção de lona solta-se da carroceria pelas laterais muito facilmente, fazendo barulho em velocidades acima dos 80 km/h. Neste caso, a escolha deve ser entre o conforto dos passageiros ou a proteger a bagagem.

Sem pressa
Equipada com o mesmo motor 1,4-litro de até 102 cv (com etanol) do Agile, a Nova Montana mostrou-se pacata com a caçamba vazia. Tinha fôlego para realizar ultrapassagens e encarar acelerações mais vigorosas, mas apenas após uma ou duas reduções de marcha. Com os 13,5 kgfm de torque chegando a 3.200 rpm, o propulsor demora para “acordar”, mesmo com as mudanças feitas pela engenharia, que encurtou a primeira marcha (melhorando arrancadas) e alongando a quinta marcha (otimizando o consumo rodoviário), em relação ao Agile.

A posição de dirigir do carro melhorou em comparação ao hatch, graças ao banco mais elevado, permitindo um maior afastamento do motorista em relação ao painel. Volante e alavanca de câmbio, contudo, continuam deslocados de seu centro. Não é algo que incomode em um curto passeio, mas motoristas que usarão o carro para o trabalho podem se queixar da ergonomia ruim herdada da plataforma do primeiro Corsa nacional.

A suspensão se posiciona entre o firme conjunto da VW Saveiro e a macia Fiat Strada. Em curvas de média velocidade a traseira mostrou disposição à flutuação, dando a impressão de que o eixo traseiro estava disposto a ultrapassar o dianteiro. Para um carro de trabalho, o sistema é suficiente para preservar a coluna dos ocupantes e a integridade da carga, mas pode incomodar quem comprar a nova Montana com o objetivo de manter a caçamba vazia.

Ousada discreta
Com visual renovado e diferente, a Nova Montana visa manter o sucesso discreto de sua antecessora: uma picape de volume, com força para firmar o pé na terceira posição entre as mais vendidas do seu segmento e fôlego para mirar na segunda posição, ocupada pela Saveiro.

A meta da Chevrolet é vender 3.500 unidades por mês do modelo, média acima da Montana atual. Durante a apresentação, executivos evitaram falar na liderança. Optaram pelo discurso moderado, indicando que objetivam aumentar as vendas da nova Montana gradualmente. Com apenas um motor e duas versões de acabamento, a nova picape tem força para se manter na mesma posição de sua antiga homônima. Mas, para galgar novos horizontes, será necessário mais do que apenas uma carinha bonita.

Motor Quatro cilindros em linha, transversal, 8 válvulas, 1389 cm³
Potência 102 cv (etanol) / 97 cv (gasolina) a 6.000 rpm
Torque 132 Nm / 13,5 kgfm (etanol) - 130 Nm / 13,2 kgfm (gasolina) a 3.200 rpm
Câmbio Manual, com cinco marchas
Tração Dianteira
Direção Por pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
Rodas Dianteiras e traseiras em aro 15” de liga-leve
Pneus Dianteiros e traseiros 185/60 R15
Comprimento 4,51 m
Altura 1,58 m
Largura 1,70 m
Entre-eixos 2,67 m
Caçamba 785 l
Peso (em ordem de marcha) 1.152 kg
Tanque 54 l
Suspensão Dianteira independente, tipo McPherson; traseira eixo de torção
Freios Disco ventilado na dianteira e tambor na traseira
Preço R$ 31.990 na versão LS a R$ 44.040 na Sport